Quem
sou eu?!
Um
jovem preto com 22 de idade, contrariando a estatística mais certeira de uma
sociedade, onde a mortalidade pra jovens iguais ao seu age com crueldade. Mas,
na real quem sou eu de verdade?!
É só
isso que resume quem eu sou?
Essa
é a verdade, ou só imposta para mim por pura malandragem, limitar um preto à
morte é roubar lhe a liberdade, mas qual liberdade? Se nem lugar para mim
encontrei ainda nessa porra de sociedade. Então, quem sou eu, se viver empoderado
é pouco, se quando eu subo na vida, não vejo os meus quando eu olho para um
lado e para o outro.
Então,
porra, quem sou eu?
Por que
nos contam só mentiras? Se tudo nos tiraram, nos deixaram a intriga, segregação
e morte, ao meu levanto a arma, jogados a sorte. Eu nao acredito na sua
verdade, onde eu sou o vilão que nao conhece bondade, machuco a todos só por
crueldade, parece até que nessa vida eu tenho liberdade a vontade. Ta ligado,
compade?
Bagulho
louco não saber quem você é, viver as cegas é quase ser louco, né. Não saber de
onde veio ou pra onde vai, é o que sistema quer nos matar como uns
"Zé", sem ninguém dizer um aí.
Quantas
vezes sem saber quem sou, me perdi com o opressor. Cego na aventura, de a vida
ali não parecer tão dura... Que nada era só mais uma ilusão... Juntar se ao
branco e ter paz na união... Era mais uma mentira, no início foi tão bom, mas
terminou em mais uma daquelas brigas. Não fui o bastante, no momento de poder
disser que fui arrogante, apontar racismo à ela, que sempre me disse ser um
ótimo amante? Não podia, ela fez me ver como um infame.
Então, sou eu esse? Ou eu não consigo entender
que a vida é loka demais, dei valor à quem por mim nunca teve o mesmo
interesse?
Acorda
pra vida, preto, cuida de quem corre por você e te quer sabendo seus defeitos,
defeitos não, na real você foi eleito, pelos brancos a sempre estar no leito,
era esse o plano perfeito.
Sigo
me questionando quem sou eu, e se de mim estou gostando... Mas na verdade,
descobri quem sou de verdade... sou um sobrevivente, que de um jeito triste ou
sorridente... tenho um Danrlei para cada situação diferente.
Tu não ta sozinha
Pretinha, a dor que tu sentes também é minha
Irmãs, mãe África, diáspora
A muito tempo fomos separadas
Acorrentadas, violentadas, humilhadas
E a nossa história? A nossa história foi roubada...
Não descendemos de escravas, não mas de rainhas
As Candances, Makeda, Nzinga
Nossas ancestrais são mulheres fortes
Guerreiras pretas que lutavam até a morte
E ainda lutam...a gente luta todo dia.
Só a gente sabe o que ser mulher preta, mãe e de
periferia...
Irmã preta me escute. Levanta a cabeça e lute!
Me dá a mão e vem comigo,
Derrubar o machismo, o racismo, o sexismo
Todas as formas de opressão
E o estado genocida que mata também os nossos irmãos
Pais, filhos, maridos...
Pra eles todo preto é bandido
Vem comigo preta e juntas vamos nos erguer
E mostrar pra eles o nosso poder!
A gente sente, a gente sabe,
Toda mulher preta carrega ancestralidade
Ubuntu! “Eu sou pelo que nós somos juntas”
Tu não tá sozinha
A dor que tu sentes, também é minha.
Poema escrito por: Sarah Neves, estudante de jornalismo, mulher preta em movimento, Amazonida, Mãe de Pérola Negra.
Sou mulher
Sou preta
Sou afro-indígina
Feto gerado pelo estupro de povos
Povos negros
Povos indíginas
Mãe África foi estuprada
Mãe Pindorama foi estuprada
Nossa história, preta...
Sou fruto (também) do sêmem do colonizador
o branco estuprador
Branco? Europeu?
Estupraram a nossa rica história preta!
Arrancaram da mãe África tudo que invejavam
Forçaram o aborto
Colonizaram!
Mas, até hoje, não abortaram
Hoje quem aborta sou eu!
Arranco de mim a história branqueada
É insuportável esse contato
É indescritível minha repulsa
Enegreço - me!
Indigino - me!
Me torno...Livre
Poema escrito por: Tairine Souza, graduando-se no curso de
Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB,
no Centro de Formação de Professores - CFP. Bolsista do Programa de Educação
Tutorial - PET vinculado ao MEC, com o Projeto Afirmação que contribui para o
acesso e permanência qualificada de pessoas negras no ensino superior.
CRESPO
Nada de bombril!
Meu cabelo não é esponja de aço
É crespo, moço!!!
É crespo, moça !!!
Não custa falar
Aprenda a nomear, a respeitar
A minha diferença da sua
Os meus cachinhos miudinhos, enroladinhos
da raiz as pontas
Crescendo pro alto, volumoso e hidratado
Enquanto você fica aí o julgando de ressecado,
Apelidando de duro e descendo o esculacho
No jato d’água ela escorre e deixa meus cachinhos mais amostrados
Quando seca ele é pura beleza no estilo armado
Olhando no espelho, moço
Olhando no espelho, moça
Meu black reflete minha identidade
Mulher naturalmente bela
sem a necessidade constante
de uma maquiagem.
Meu cabelo não é esponja de aço
É crespo, moço!!!
É crespo, moça !!!
Não custa falar
Aprenda a nomear, a respeitar
A minha diferença da sua
Os meus cachinhos miudinhos, enroladinhos
da raiz as pontas
Crescendo pro alto, volumoso e hidratado
Enquanto você fica aí o julgando de ressecado,
Apelidando de duro e descendo o esculacho
No jato d’água ela escorre e deixa meus cachinhos mais amostrados
Quando seca ele é pura beleza no estilo armado
Olhando no espelho, moço
Olhando no espelho, moça
Meu black reflete minha identidade
Mulher naturalmente bela
sem a necessidade constante
de uma maquiagem.
Poema escrito por: Jacqueline Cerqueira, reside em Sapeaçu- é poetisa e escritora,
graduada em Letras Vernáculas – UNEB, 2013, é professora e pesquisadora
literária; organizadora do Sarau Sapeaçu, desde 2014 e desenvolve nas
escolas onde leciona o Projeto em experimentação: “A Poesia Vive” desde
2013.
Eu te abracei
Você me traiu
Disse que vinha em paz
Ensinei minha ciência
Mostrei minha cultura
Fortaleci teu povo
Eu te abracei
Você partiu
Escreveu minha história
Apagou meu nome
Colocou o teu
Me chamou de selvagem
Não te ataquei
Você me invadiu
Saqueou meu templo
Destruiu minha cidade
Matou milhões
Escravizou meu povo
Eu que chorei
Você que sorriu
Trabalhei forçado
Construir teu império
Servir teu banquete
Fiquei com a sobra
Não me entreguei
Você mesmo viu
Libertei meu povo
Busquei meu refúgio
Restaurei meu culto
Sonhei com a minha terra
Eu reciclei
Você sempre vil
Demonizou para ser santo
Fez versão pra ter algo
Aplaudiu pra ser visto
Apoio pra ser teu
Eu que criei
Você me excluiu
Tudo que eu faço é abraço
É amor, é nós, é laço
Tudo que tu faz é ego
é disputa, é medo, é morte
Eu disse: Chega!
Você reagiu
Me chamou de vitimista
De racista invertido
Pra tentar me calar
Quer falar de união
Não!
Eu te abracei
Você me traiu
Poema escrito por: Zaus Kush
Um dia qualquer
O homem sem perspectiva é frustrante
A possibilidade de permanecer em estagnação, condicionado, desperta o sentimento de medo
A sociedade ocidental é extremamente capitalista e o cotidiano só reafirma que o ter prevalece mais que o ser
Infelizmente a insegurança e incerteza de dias melhores, ou vidas melhores se torna historicamente imanentes aos homens pretos e pobres
O sonho é companheiro da resiliência
A utopia é combustível da existência, seja por motivos supérfluos ou banais
Os dias são novos mais os homens são os mesmos
A vida segue seu rumo e o sol continua a brilhar
Aprendemos a conviver viver com o que temos e somos
Entretanto, o sonho ou a dádiva de sonhar nos matem vivos e resistindo acreditando que um novo dia pode raia
O futuro para alguns é uma incógnita, para outros é a consolidação do fracasso, da tristeza, ou em alguns casos da extrema felicidade
O importante é viver, viver no sentido literal da palavra, e não apenas vegetar
Mas, nos perguntamos como ?
Se tudo isso nos adoece
Não dá para sermos heróis de todos os dias, porque até na ficção há descanso, imagine na vida real
A reflexão de si, ou de nós mesmo é dolorosa
destarte, gritamos e almejamos dias de glorias
Jean Gomes - Irmandade Sankofa
A força do machado de Xangô
Os raios da saudosa Iansã
Os giros das palhas de Omolum
Os ventos que pairam e ecoam as vozes dos espíritos
Ocultam e transmitem a intensidade do Axé
Quem és tu negra livre?
A saudar com teu olhar curioso os orixás
Esconde-te a ti mesmo e revela-se no teu pensar transcrito
Busca a tua essência e ao mesmo tempo foges dela
Porque te negas a própria origem?
Abra-se para os teus ancestrais
Ouve o que eles tem para te dizer
E então saberás a verdadeira vida nesse mundo
em que és apenas aprendiz temporária
O' PÓ EDÉ ORISÁ
AXÉ AIEÉ OLODÉ
BABA OPÓ ORUN
O poema acima foi escrito pela pedagoga Daniela Sales em 2012.
Trabalho apresentado no Encontro Anual dos Grupos PETs (ENAPET), em Belém do Pará.
Autora: Tairine Cristina Santana de Souza - Irmandade Sankofa
O Cordel abaixo foi escrito por Jorsy Nilaja - Irmandade Sankofa, no ano de 2003. A autora relata que:
" Esse texto, fiz para apresentar o perfil da minha pesquisa sobre a Construção da Identidade da Criança Negra na Escola. Um estudo de caso numa escola da periferia de Amargosa em 2005. O texto, apesar da sua simplicidade, desvela um segredo que guardei por 21 anos. Nele, expresso a complexidade do preconceito/racismo ainda existente na nossa sociedade."
SOU HISTÓRIA
Aos 11 anos sofri
Pois não conseguia falar
A todos que me ignoravam
E me faziam calar
Numa pequena sala de aula
Roubaram a minha herança
Silenciando a minha história
Que trago com amarga lembrança
Professores e colegas servis
Cultuavam o padrão europeu
E para contrariar as regras
Quem fazia parte do grupo? EU
Não me encontrava no livro didático
Estórias infantis ou coisa assim
Sofri o preconceito pelo silêncio
E porque alguns zombavam de mim
Na mudança para a série seguinte
É que veio a minha aceitação
Descobriram que minha mãe
Era professora daquela instituição
Professor antes possuía status
Na época era coisa normal
Mas não fiquei satisfeita com aquele
Embranquecimento cultural
Pois sempre fui dona de uma identidade
Até minha alma sempre foi plural.
Jorsy Nilaja, 2003.
Direção e Produção Audiovisual: Anderson L. Souza (aproveite e visite o blog Ambiente Coletivo)
Conheça a 1º edição do Jornal Sankofa, publicado em 10 de outubro de 2014.
Amargosa - BA, 10 - out - 2014, volume 1.
Nos dias 21 e 22 de fevereiro de 2015, integrantes do Núcleo de Negras e Negros - Irmandade Sankofa participaram do I Encontro de Cineclubes Comunitários na comunidade do Viradouro, localizado na cidade de Cachoeira - BA. Confira abaixo um pouco do que rolou por lá!!
I Encontro de Cineclubes Comunitários
Realização: Cine do Povo
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